sábado, 27 de abril de 2013

A zona boêmia carioca - Vila Mimosa


VILA MIMOSA

Rua Sotero Reis – São Cristóvão - RJ

Num dos versos da Divina Comédia, Dante leu a inscrição sobre a Porta do Inferno:

“Vós que entrais, deixai toda a esperança”.

Eu estava frustrado com o universo mundano do Rio, foi quando decidi redescobrir um território paralelo encravado entre São Cristóvão e a Praça da Bandeira.

Vila Mimosa, o lugar onde a Mulher é real. Este bem que podia ser um mote de boas-vindas, colocado numa faixa na entrada da Rua Ceará, mas é apenas uma sensação que tenho quando penetro na Vila. Mais de oitenta anos de existência, dizem que recebe, em média, mil visitantes por dia. Já ocupou vários pontos da área do Centro. Contam que Clientes célebres estão na lista de freqüentadores: Manuel Bandeira, Cartola, Di Cavalcanti, Dicró, etc.

Na Mimosa, debaixo daquelas lâmpadas de cem velas, a mulher não tem outra opção, ela é real em suas perfeições e imperfeições. Nuas ou seminuas, tudo é revelado pelo brilho florescente das galerias. Lá, não faz diferença usar lentes contatos, cabelos oxigenados, bronzeamento artificial e apliques. Na Vila Mimosa tudo é verdade nua e desmascarada.

A mulher linda é linda, a feia é feia. A boa de cama é um sucesso inquestionável e a morna é uma tentativa de engodo. Não existem fakes na Rua Sotero Reis.

Os camaradas mais preconceituosos irão dizer:

- Putz! Vila Mimosa?! Lugar podre, eu não vou!

Pois eu lhe respondo, meu estimado colega: Despoje-se dos seus receios e idéias preconcebidas, vá à Vila Mimosa. É uma imperdível experiência de vida e um item imprescindível no currículo de qualquer boêmio.

Na VM o sexo é socialista e viramos parte de um imenso proletariado porno-erótico. Ali, um engenheiro fica lado a lado com um pedreiro e os dois dividem a mesma mulher.

Fazer sexo na Mimosa é como comprar roupa em Vilar dos Teles, você paga apenas pela peça, não existe a taxa da griffe. Encontramos a mesma garota que poderia estar num bordel de luxo.

Vila Mimosa, onde o preço também é real.

Na VM não existe o engano da Luz Negra que disfarça as imperfeições do corpo feminino. Os corredores da VM são iluminados com a eficiente e reveladora lâmpada Philips de 100 velas, que esfrega em nossa cara todas as verdades que precisamos ver.

Na Vila você não bebe o uísque falsificado, aquele que enfeita o copo cheio de gelo que algum empresário falido balança, fazendo tilintar mais do que sino em Paróquia do Interior. Na Mimosa você toma uma “caninha” pura e honesta. Vila Mimosa, onde até o porre é real.

Esqueça quem você é antes de pisar sobre aqueles paralelepípedos, na VM você não é ninguém, você se torna um peão entre peões.

Na Mimosa, as mulheres são Putas, não são acompanhantes e nem massagistas. Lá, elas não anunciam em sites e nem estão mascaradas pelo photoshop.

A Vila Mimosa é pra homem que aprendeu a ser Malandro, é pra quem sabe entrar e sair dos Becos da Vida.

Mulher na Vila Mimosa não quer ser Princesa, assumiu que é Vagabunda; não almeja fazer amorzinho escolhe trepar; não se interessa por você, mas se apressa em matar o seu desejo.

Na VM não existem suítes ou banheiras de hidromassagem, na Mimosa há as Masmorras. Você ingressa em cubículos decorados por uma cama de solteiro, uma latinha de lixo e paredes mofadas. A carteira não sofre, mas o corpo transpira, fazendo o sexo retomar o seu significado primitivo original. A VM é chinelo de dedo e bermudão, é o Lula antes de ser Presidente.

Na Mimosa você não é diferente, você é igual e se sente estranhamente único por conta disso.

Vila Mimosa, onde o Mundo é real.

26/04/2013 - A fúria do Rio Maracanã (por Alexandre Coslei)
                    

Ainda se faz recente, na memória e no cenário tijucano, o último transbordamento do Rio Maracanã. Após uma chuva ininterrupta, as águas emergiram da barragem e arrastaram tudo o que podiam na periferia. O talude do rio, na altura da Rua Pinto Figueiredo, foi destruído. As obras de recuperação se arrastam desde março, quando ocorreu a enchente.

Apesar dos avisos da natureza, os órgãos públicos ainda não se mostram atentos aos fatores que colaboram para gerar a resposta violenta do rio às chuvas da cidade. Caminhando pela Av. Maracanã, podemos observar áreas do canal onde o lixo se acumula e canos tomados de ferrugem despencam sobre as margens. Além disso, focos temerosos de mosquitos proliferam a céu aberto. 

Há quanto tempo não é realizada uma dragagem no curso do Rio Maracanã?

Conversamos com a moradora Derlândia, que trabalha num dos prédios localizados na esquina da Rua Uruguai com Av. Maracanã, trecho onde a última enchente causou muitos estragos.

- A última chuva inundou garagens e deixou a rua tomada de lama. À noite, a quantidade de mosquitos que invade os apartamentos é insuportável. Tenho medo da dengue.  – Declara Derlândia.

Os moradores da região afirmam que encaminham reclamações e pedidos à Prefeitura, mas ainda não enxergaram providências.



sábado, 20 de abril de 2013

A política da miséria

Dizem que vivemos num país tropical, abençoado por Deus, mas esquecem de dizer que nossa bela nação, além de abençoada, também é sodomizada há séculos por uma política suja e retrógrada.

Em Pindorama, enquanto ouvimos falar que tudo melhorou, que o Bolsa família é uma revolução social, que a aceitação do Governo Lula é estratosférica, também testemunhamos os nossos honoráveis congressistas cortando os céus, viajando com dinheiro público para os mais diversos e paradisíacos destinos. Quando não são eles a planarem sobre nossas cabeças, viajam as namoradas, namorados, esposas, maridos, filhos, filhas, mãe e quem mais puder usufruir dos maravilhosos benefícios oferecidos pelos nossos promissores cofres públicos. Viajam até mesmo os paladinos defensores da ética, os baluartes na luta contra a corrupção. Sem forçar a vista, somos capazes de observar cruzar a imensidão azul do nosso céu de brigadeiro alguns pequenos pontos verdes, são os Gabeiras, uma nova espécie de pássaro já devidamente catalogada pelos nossos ornitólogos. Caso os veja, não atire a primeira pedra, está confirmado que a maioria dos telhados sobre os quais sobrevoam é de vidro.

O Brasil se firma cada vez mais como um país generoso, seus cofres são públicos quase no sentido literal da palavra, qualquer um mete a mão, estamos para ceder até uma merreca para o FMI. Isso sim é ser emergente!

No entanto, entre o céu e a terra, sob os semáforos, existe algo que afronta a nossa vã filosofia, uma das empresas que mais cresce em nosso solo fértil: a Miséria Entretenimento S/A. Com os seus malabaristas, engolidores de fogo e equilibristas, a Miséria S/A faz a festa do asfalto. Andando descalços, sobre o piche fumegante, vemos crianças e adolescentes esmolando alguns trocados num show de melancolia. Basta que a luz vermelha do semáforo acenda e eles surgem diante dos carros. E nós ficamos ali, meio pasmos, meio constrangidos, meio anestesiados, ansiando para que a luz verde nos liberte. Como num reflexo, nossos pés bailam, um deles solta a embreagem enquanto o outro pisa no acelerador, o automóvel cruza a faixa de pedestre e partimos sem olhar para trás.

- O sinal não abriu, está vermelho! – Alguém grita ao longe.

Ignoramos e seguimos em frente. Assim assinamos mais um atestado da nossa assumida sem-vergonhice.


A Lei x Zona Boêmia

Rio de Janeiro - "Dura Lex Sed Lex !"
 
Hoje, leio num dos jornais do Rio que foram presos na Quinta da Boa Vista um casal de rufiões (um policial e uma mulher) por agenciarem a prostituição de menores no local. Muito bem! Parabéns a nossa polícia! Cortando na própria carne!

Opa! Mas acaba de me ocorrer algo!... A alguns metros do Parque que abriga o Palácio dos nossos antigos Imperadores existe a Zona de baixo meretrício mais famosa do Brasil, a Vila Mimosa. Será que nada de errado acontece por lá? Sempre ouvimos dizer que o tráfico de entorpecentes é rotina nos arredores da Rua Ceará; assassinatos também já ocorreram; voam boatos de que muitas casas têm como donos membros da nossa esmerada força policial. Será que na Vila Mimosa, um local quase vizinho à Quinta da Boa Vista, não ocorre prostituição de menores? Será que nada de errado habita a Zona? Tomara que não!..

Como vamos entender que tipo de força oculta conduz a ação da lei? Em São Cristóvão a prostituição é combatida, mas na Zona da Praça da Bandeira nem ouvimos falar em ação da polícia. No entanto, sabemos que na Zona acontecem tiroteios gratuitos, pessoas armadas transitam livremente como se estivessem num faroeste caboclo, a droga está por todos os lados, além de camelôs, vendedores ambulantes ilegais, etc. Tudo isso amontoado numa Rua chamada Sotero Reis, com acesso pela Rua Ceará, próximo a Praça da Bandeira.

A ilegalidade, a prostituição, o crime, tudo acontece nas barbas do Prédio da Prefeitura, o Piranhão, bem pertinho do Centro. Atrás da Zona se localiza um Quartel da Polícia Militar e um pouco mais adiante a Delegacia de São Cristóvão. O que faz a lei agir na Quinta da Boa Vista, mas ignorar a Vila Mimosa? Mistério!...

Talvez, a Vila Mimosa seja o retrato mais adequado para a nossa cidade; talvez, por isso, ela seja preservada como um monumento ao Rio; talvez, ela ainda venha ser um símbolo que rouba da nossa boca a palavra que define o nosso Estado: uma zona!

Refletindo sobre a Reforma Ortográfica

Bastou que o Luis Fernando Veríssimo fizesse sua alegre defesa em prol do trema e logo surgiram hordas de papagaios alvoroçados acenando com os lenços saudosos e indignados pelo assassinato anunciado do pobre acento diacrítico do português do Brasil.

É claro que a última reforma ortográfica foi extremamente saudável e positiva para a nossa língua, além de aproximar o português da unificação, também desburocratizou alguns aspectos da escrita.

Infelizmente, a bisonhice sobre o assunto e os protestos obscurantistas de quem nem ao menos ainda havia lido o conteúdo das mudanças criaram uma atmosfera de rejeição ao passo à frente que nossa Gramática estava dando. Por um momento, as simplificações de algumas regras pareceram uma heresia que foi brutalmente condenada pelos peseudointelectuais da vez. Por pouco não sentenciaram os reformistas à fogueira da blasfêmia.

Mas não há o que discutir, a reforma ortográfica veio para ficar e para melhorar a relação do usuário com a língua pátria. Ações como esta devem ser louvadas e criticadas somente com o intuito de aperfeiçoar a evolução linguística e nunca com o espírito retrógrado.

A língua não precisa ser um cartório repleto de regras confusas e descartáveis, a língua só precisa ser um doce prazer para quem fala, ouve e escreve.

Cidade das trevas

 Rio de Janeiro - À noite, com um mínimo de criatividade, podemos passear pelos bairros do Rio nos imaginando numa excursão pela Transilvânia dos filmes de Drácula. Quando não estamos envolvidos pela penumbra que encobre muitas Ruas é porque já mergulhamos no breu total de alguma Avenida.


Não faz muito tempo que os cariocas passaram a ouvir dizer que habitavam uma cidade partida. Hoje, o Rio não é mais uma cidade partida, é uma cidade em estado de sítio. De um lado a miséria nos acua, do outro a violência faz tocaia, mais a frente nos espera a escuridão e por trás a paranóia nos persegue.



Qual seria a saída? Talvez, trancafiar-se em algum lugar isolado, onde pudéssemos tentar preservar a razão. Seria um hospício? Não sabemos... O que sabemos é que a maioria de nós já se trancafiou, nos entrincheiramos atrás de grades, porteiros eletrônicos, circuitos internos de TV e todos os acessórios que atuam como um Lexotan no nosso pânico.



O Rio é uma cidade rendida aos Bárbaros, não mais lutamos contra eles, apenas buscamos resistir o mais que pudermos, é o instinto de sobrevivência que tem a pretensão de evitar nossa extinção. Enquanto isso, vamos sendo soterrados pelo arsenal bélico das Favelas. Caso o nosso corpo sobreviva ao sorteio das balas sem rumo que navegam pelo céu, será preciso amarrar nossas mentes ao Porto da Razão, evitando que ela seja devorada pela esquizofrenia paranóide que nos rodeia.



Não pense que é estranho sentir que o melhor momento do seu dia foi aquele em que sonhou estar numa praia deserta ou num recanto bucólico, alienado de tudo e protegido por uma paz sedutora. A este fenômeno batizamos como Síndrome do Paraíso e é um surto inofensivo que acomete os moradores de metrópoles caóticas.



O que houve com as luzes? Por que a cidade se transformou num Vale de sombras que é lentamente assimilado pelas hordas marginais que se refugiam nos morros? Por que temos pavor dos bandidos e medo da polícia?



Sim! Fomos a cidade partida que evoluiu para uma cidade sitiada, mas a origem de tudo está naquela cidade que ficou abandonada por décadas, crescendo aleatoriamente, incendiada pela barbárie, sem que força alguma surgisse para frear a anarquia do caos.



Porém, acima de nós, do alto dos Palácios, nos observa a matilha atenta. Eles ignoram nossos temores, nossas expectativas, nem mesmo pelo sangue que jorra diariamente sobre o asfalto eles conseguem se interessar. Alimentam-se dos nossos ganhos, cobram para nos resguardar. Dizem que este exército de chacais são vampiros e, por isso, nos imergiram nas trevas. À noite vivem como lobos e durante o dia assumem formas assustadoras, transformam-se em Governador, Prefeito, Deputados e Vereadores. 

A fúria do Rio Maracanã


Rio de Janeiro - A enchente do rio maracanã, na faixa entre a Rua Uruguai e Pinto Figueiredo, na Tijuca, expõe algumas das principais falhas da prefeitura da cidade: a postura reativa e morosa.

Verifica-se um extremo descuido com a limpeza e dragagem do Rio Maracanã. Em sua extensão, o valão exibe pontos focais do mosquito da dengue e o risco de transbordamento. Após a destruição de um trecho do talude, a prefeitura se arrasta há meses numa obra interminável de recuperação.

Prevenção, competência e agilidade não parecem fazer parte das diretrizes da gestão do  município.