“O
crítico literário é um homem que sabe ler e que ensina os outros a ler. ”
-Charles Augustin
Saint-Beuve-
Um
crítico apurado, talvez, não considerasse de bom tom iniciar o artigo com uma
citação que beira o clichê. No entanto, em nosso caos cultural, mergulhados na
profusão de títulos que são lançados diariamente às livrarias, nem assustaria
vermos alguns livros com o carimbo “made
in china”. Sim, a Internet e o Word produzem escritores em escala industrial e quase sempre sem
controle de qualidade. Junto com o fenômeno da multiplicação dos livros,
surgiram os messias e as oficinas literárias que prometem formar os novos best-sellers do século. A literatura se
tornou um mercado pagão.
Ao
olharmos para trás, lembrando de um período não tão remoto, encontramos nomes
como Carpeaux, Augusto Meyer, Álvaro Lins, Antônio Cândido, Silviano Santiago.
Personagens que atravessaram o século XX avaliando obras e proporcionando,
através dos jornais, as críticas de rodapé, eram elas que despertavam o crivo
dos leitores. A maioria desses críticos começaram a escrever numa época em que
não havia especialização em Letras e Literaturas, elaboravam análises
facilmente compreendidas pelo brasileiro médio, os conduzindo ao encontro dos
melhores autores e elegendo os clássicos que até hoje enaltecem as bibliotecas.
O que houve com a crítica literária? José Castelo, jornalista da Gazeta do
Povo, afirma que ela não mais existe.
Atribuem
o ocaso da crítica à implantação da Teoria da Literatura dentro das
universidades. As análises, antes acessíveis, ganharam ares incompreensíveis,
pernósticos, rodeadas de códigos ininteligíveis ao leitor comum. Enquanto os
primeiros críticos brasileiros do século XX avaliavam e avalizavam um livro, os
rebentos da Teoria Literária dissecavam cientificamente um texto. A ótica
universitária trouxe o peso do enfado.
Como
nada se perde e tudo se transforma, a necessidade do lucro fez nascer no
mercado editorial duas deturpações pejorativas: O Publisher e o Resenhista.
O Publisher veio tomar o lugar do nobre
ofício de Editor. Agora, os livros são publicados visando o seu potencial de
vendas, a capacidade do autor agregar leitores, a busca de nichos comerciais
imbuídos de caráter pecuniário.
O
Resenhista é a versão empobrecida do saudoso crítico literário, é a crítica
prostituída. Longe de ser um teórico, ele se coloca como leitor profissional. A
resenha não se obriga ao compromisso com a linguagem, nem a conceitos ou
tradição. É uma redação sobre um livro e se presta, geralmente, a promover o
salto das vendas. Não é incomum percebermos a relação incestuosa entre
resenhistas, autores e editoras. Se quiséssemos alçar a resenha ao patamar de
crítica, nós a chamaríamos de crítica de patota. Qualquer garoto de 15 anos
elabora uma resenha, não é preciso muito, além de ler o livro e desenvolver
elogios ou apontar erros. Tudo irá depender da intenção, nunca de um
compromisso estético.
Após a
revolução da informática, nunca tivemos tanto a necessidade do crítico
literário que nos traga novamente a avaliação que avaliza aquilo que se deve
ler, que devolva ao livro o status de obra de arte e retire dele o rótulo de
produto. Do jeito que estamos, o universo literário representa uma Gotham City onde o Batman é um herói falecido.