Rio de Janeiro - À
noite, com um mínimo de criatividade, podemos passear pelos bairros do
Rio nos imaginando numa excursão pela Transilvânia dos filmes de
Drácula. Quando não estamos envolvidos pela penumbra que encobre muitas
Ruas é porque já mergulhamos no breu total de alguma Avenida.
Não
faz muito tempo que os cariocas passaram a ouvir dizer que habitavam
uma cidade partida. Hoje, o Rio não é mais uma cidade partida, é uma
cidade em estado de sítio. De um lado a miséria nos acua, do outro a
violência faz tocaia, mais a frente nos espera a escuridão e por trás a
paranóia nos persegue.
Qual
seria a saída? Talvez, trancafiar-se em algum lugar isolado, onde
pudéssemos tentar preservar a razão. Seria um hospício? Não sabemos... O
que sabemos é que a maioria de nós já se trancafiou, nos
entrincheiramos atrás de grades, porteiros eletrônicos, circuitos
internos de TV e todos os acessórios que atuam como um Lexotan no nosso
pânico.
O
Rio é uma cidade rendida aos Bárbaros, não mais lutamos contra eles,
apenas buscamos resistir o mais que pudermos, é o instinto de
sobrevivência que tem a pretensão de evitar nossa extinção. Enquanto
isso, vamos sendo soterrados pelo arsenal bélico das Favelas. Caso o
nosso corpo sobreviva ao sorteio das balas sem rumo que navegam pelo
céu, será preciso amarrar nossas mentes ao Porto da Razão, evitando que
ela seja devorada pela esquizofrenia paranóide que nos rodeia.
Não
pense que é estranho sentir que o melhor momento do seu dia foi aquele
em que sonhou estar numa praia deserta ou num recanto bucólico, alienado
de tudo e protegido por uma paz sedutora. A este fenômeno batizamos
como Síndrome do Paraíso e é um surto inofensivo que acomete os
moradores de metrópoles caóticas.
O
que houve com as luzes? Por que a cidade se transformou num Vale de
sombras que é lentamente assimilado pelas hordas marginais que se
refugiam nos morros? Por que temos pavor dos bandidos e medo da polícia?
Sim!
Fomos a cidade partida que evoluiu para uma cidade sitiada, mas a
origem de tudo está naquela cidade que ficou abandonada por décadas,
crescendo aleatoriamente, incendiada pela barbárie, sem que força alguma
surgisse para frear a anarquia do caos.
Porém,
acima de nós, do alto dos Palácios, nos observa a matilha atenta. Eles
ignoram nossos temores, nossas expectativas, nem mesmo pelo sangue que
jorra diariamente sobre o asfalto eles conseguem se interessar.
Alimentam-se dos nossos ganhos, cobram para nos resguardar. Dizem que
este exército de chacais são vampiros e, por isso, nos imergiram nas
trevas. À noite vivem como lobos e durante o dia assumem formas
assustadoras, transformam-se em Governador, Prefeito, Deputados e
Vereadores.
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