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A ARROGÂNCIA DO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

Retratando-me como escritor iniciante, busquei aproximação mais apurada sobre as práticas do mercado editorial no Brasil. Os primeiros contatos com as maiores corporações me revelaram um executivo de perfil arrogante e pouco acessível, é o desenho predominante do personagem que compõe o editor nacional. Soa anacrônico imaginarmos um profissional, que deveria preservar a mente aberta para identificar e promover talentos promissores, aprisionado num casulo de pedantismo que incuba um vulgar caçador de níqueis. Travar um breve diálogo com alguns desses editores significa ser apresentado a uma ironia gástrica que corrói qualquer conexão que poderia ser criada. Editores são ilhas de desprezo. A produção de livros sofreu fortes acomodações tectônicas nos últimos dez anos, empresas como a Cia das Letras, Objetiva e Nova Fronteira ganharam sócios internacionais com forte participação acionária. Será que isso explicaria a atual supremacia dos títulos estrangeiros em nossas maiores livrarias? ...

A NOVA LITERATURA COMO FEUDO DE CELEBRIDADES

A NOVA LITERATURA COMO FEUDO DE CELEBRIDADES Por Alexandre Coslei A literatura, tal qual a lendária cidade de Troia , foi um dos últimos bastiães que cedeu ao avanço das barbáries da globalização. Resistiu com bravura à vilipendiação dos valores e à corrupção da alma. No entanto, resistir é inútil, já pressagiavam os Borgs de Star Trek . A arte literária também está sendo assimilada pelo consumismo hedonista para se enquadrar às normas da indústria cultural do século XXI, que é avessa a mergulhos profundos e impõe que as nossas preferências se limitem à epiderme das coisas. Livros com capas coloridas, chamativas; autor com pose de pop star , patinando deslumbrado sob holofotes e flashes de câmaras digitais. A palavra que renuncia ao conteúdo para se transformar em imagem plástica, mais palpável, palatável e lucrativa. A palavra realocada num mundo onde prevalece o objeto comercial. Book trailers , palcos, escritores-celebridade, feiras literárias como grandes anfiteatros para ...

A CRÍTICA PROSTITUÍDA

“O crítico literário é um homem que sabe ler e que ensina os outros a ler. ” -Charles Augustin Saint-Beuve-   Um crítico apurado, talvez, não considerasse de bom tom iniciar o artigo com uma citação que beira o clichê. No entanto, em nosso caos cultural, mergulhados na profusão de títulos que são lançados diariamente às livrarias, nem assustaria vermos alguns livros com o carimbo “ made in china ”.   Sim, a Internet e o Word produzem escritores em escala industrial e quase sempre sem controle de qualidade. Junto com o fenômeno da multiplicação dos livros, surgiram os messias e as oficinas literárias que prometem formar os novos best-sellers do século. A literatura se tornou um mercado pagão.   Ao olharmos para trás, lembrando de um período não tão remoto, encontramos nomes como Carpeaux, Augusto Meyer, Álvaro Lins, Antônio Cândido, Silviano Santiago. Personagens que atravessaram o século XX avaliando obras e proporcionando, através dos jornais, as crítica...

VERDADES DO COTIDIANO

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          DA SÉRIE: VERDADES DO COTIDIANO.  Juro, às vezes, tento fortalecer minha fé no atendimento do funcionário público, mas logo surge um desses verdugos de cartório, que somente com uma caneta consegue impingir as mais dolorosas torturas contra ... os desprotegidos contribuintes, e minha crença desaba em céticas ruínas. Quarta-feira. Compareço ao posto da Inspetoria da Receita Estadual para dar entrada num processo de reconhecimento de isenção de ICMS, o vigilante me aponta o guichê e vou de encontro ao meu destino. Não havia ninguém para me atender, mas uma senhora “quebra-galho” apareceu do nada e me perguntou o que eu desejava. Expliquei a minha demanda e ela me informou sobre a lista de documentos que eu deveria trazer. Ok, voltarei no dia seguinte. Quinta-feira. Retorno pela segunda vez ao posto da Receita Estadual na Tijuca, caminho até o guichê, encontro um funcionário com pastas abertas e digitando compenetrado. - É aqui que ...

BARBA ENSOPADA DE SANGUE - RESENHA DA SÉRIE: DESCONSTRUINDO A CRÍTICA DE ALUGUEL

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SÉRIE: DESCONSTRUINDO A CRÍTICA DE ALUGUEL LIVRO: BARBA ENSOPADA DE SANGUE AUROR: DANIEL GALERA EDITORA: CIA DAS LETRAS / 2012 Visitar a Livraria Saraiva, seja onde for, é como entrar numa Blockbuster literária. São livros de autores celebridades como Pedro Bial, Lobão, Fernanda Torres, etc. Além deles, encontramos uma fartura de biografias e edições sobre dragões, ficções com ares medievais, h ... istória de vampiros, narrativas de psicopatas caricatos, livros de amor e toda a quinquilharia produzida para um “novo público”. Os melhores livros da Saraiva não ficam nos balcões de destaque, mas empilhados no chão como indigentes das letras. Obrigo-me a superar qualquer preconceito intelectual que ainda habite o meu universo e compro o título de um desses decantados jovens autores, alardeados como finalistas e vencedores dos mais significativos prêmios literários (nem sempre um marketing sincero, é preciso filtrar). Saio da Saraiva carregando “Barba ensopada de Sangue”, o ro...

A POPULARIZAÇÃO DE MACHADO DE ASSIS E A VULGARIZAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

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** A popularização de Machado de Assis e a vulgarização da literatura brasileira contemporânea ** Por esses dias discutiu-se tanto a popularização dos textos de Machado de Assis que quase alcançamos um tom clichê. A ideia de reimprimir a obra de Machado objetivando a imposição de um vocabulário simplório, que esteja ao alcance do público menos letrado, é somente um reflexo de uma literatura contemporânea açoitada pelas mãos de editoras que escolheram transformar a arte em cifras lucrativas. Recentemente, a escritora Nélida Piñon afirmou que hoje publicam o que vende, e não mais a literatura que fica. Está corretíssima. E qual a literatura que demonstra capacidade de mercadoria no Brasil? São os livros sobre vampiros brasileiros, ficções medievais encarnadas por anjos e demônios, violência sádica e caricata e romances sobre nada que correm centenas de páginas descrevendo litorais e personagens sem sal.   O que surpreende é a complacência cúmplice de muitos críticos com...

A zona boêmia carioca - Vila Mimosa

VILA MIMOSA Rua Sotero Reis – São Cristóvão - RJ Num dos versos da Divina Comédia, Dante leu a inscrição sobre a Porta do Inferno: “Vós que entrais, deixai toda a esperança”. Eu estava frustrado com o universo mundano do Rio, foi quando decidi redescobrir um território paralelo encravado entre São Cristóvão e a Praça da Bandeira. Vila Mimosa, o lugar onde a Mulher é real. Este bem que podia ser um mote de boas-vindas, colocado numa faixa na entrada da Rua Ceará, mas é apenas uma sensação que tenho quando penetro na Vila. Mais de oitenta anos de existência, dizem que recebe, em média, mil visitantes por dia. Já ocupou vários pontos da área do Centro. Contam que Clientes célebres estão na lista de freqüentadores: Manuel Bandeira, Cartola, Di Cavalcanti, Dicró, etc. Na Mimosa, debaixo daquelas lâmpadas de cem velas, a mulher não tem outra opção, ela é real em suas perfeições e imperfeições. Nuas ou seminuas, tudo é revelado pelo brilho florescente das galerias. L...