sábado, 20 de abril de 2013

A política da miséria

Dizem que vivemos num país tropical, abençoado por Deus, mas esquecem de dizer que nossa bela nação, além de abençoada, também é sodomizada há séculos por uma política suja e retrógrada.

Em Pindorama, enquanto ouvimos falar que tudo melhorou, que o Bolsa família é uma revolução social, que a aceitação do Governo Lula é estratosférica, também testemunhamos os nossos honoráveis congressistas cortando os céus, viajando com dinheiro público para os mais diversos e paradisíacos destinos. Quando não são eles a planarem sobre nossas cabeças, viajam as namoradas, namorados, esposas, maridos, filhos, filhas, mãe e quem mais puder usufruir dos maravilhosos benefícios oferecidos pelos nossos promissores cofres públicos. Viajam até mesmo os paladinos defensores da ética, os baluartes na luta contra a corrupção. Sem forçar a vista, somos capazes de observar cruzar a imensidão azul do nosso céu de brigadeiro alguns pequenos pontos verdes, são os Gabeiras, uma nova espécie de pássaro já devidamente catalogada pelos nossos ornitólogos. Caso os veja, não atire a primeira pedra, está confirmado que a maioria dos telhados sobre os quais sobrevoam é de vidro.

O Brasil se firma cada vez mais como um país generoso, seus cofres são públicos quase no sentido literal da palavra, qualquer um mete a mão, estamos para ceder até uma merreca para o FMI. Isso sim é ser emergente!

No entanto, entre o céu e a terra, sob os semáforos, existe algo que afronta a nossa vã filosofia, uma das empresas que mais cresce em nosso solo fértil: a Miséria Entretenimento S/A. Com os seus malabaristas, engolidores de fogo e equilibristas, a Miséria S/A faz a festa do asfalto. Andando descalços, sobre o piche fumegante, vemos crianças e adolescentes esmolando alguns trocados num show de melancolia. Basta que a luz vermelha do semáforo acenda e eles surgem diante dos carros. E nós ficamos ali, meio pasmos, meio constrangidos, meio anestesiados, ansiando para que a luz verde nos liberte. Como num reflexo, nossos pés bailam, um deles solta a embreagem enquanto o outro pisa no acelerador, o automóvel cruza a faixa de pedestre e partimos sem olhar para trás.

- O sinal não abriu, está vermelho! – Alguém grita ao longe.

Ignoramos e seguimos em frente. Assim assinamos mais um atestado da nossa assumida sem-vergonhice.


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