Dizem
que vivemos num país tropical, abençoado por Deus, mas esquecem de
dizer que nossa bela nação, além de abençoada, também é sodomizada há
séculos por uma política suja e retrógrada.
Em Pindorama,
enquanto ouvimos falar que tudo melhorou, que o Bolsa família é uma
revolução social, que a aceitação do Governo Lula é estratosférica,
também testemunhamos os nossos honoráveis congressistas cortando os
céus, viajando com dinheiro público para os mais diversos e paradisíacos
destinos. Quando não são eles a planarem sobre nossas cabeças, viajam
as namoradas, namorados, esposas, maridos, filhos, filhas, mãe e quem
mais puder usufruir dos maravilhosos benefícios oferecidos pelos nossos
promissores cofres públicos. Viajam até mesmo os paladinos defensores da
ética, os baluartes na luta contra a corrupção. Sem forçar a vista,
somos capazes de observar cruzar a imensidão azul do nosso céu de
brigadeiro alguns pequenos pontos verdes, são os Gabeiras, uma nova
espécie de pássaro já devidamente catalogada pelos nossos ornitólogos.
Caso os veja, não atire a primeira pedra, está confirmado que a maioria
dos telhados sobre os quais sobrevoam é de vidro.
O Brasil se
firma cada vez mais como um país generoso, seus cofres são públicos
quase no sentido literal da palavra, qualquer um mete a mão, estamos
para ceder até uma merreca para o FMI. Isso sim é ser emergente!
No
entanto, entre o céu e a terra, sob os semáforos, existe algo que
afronta a nossa vã filosofia, uma das empresas que mais cresce em nosso
solo fértil: a Miséria Entretenimento S/A. Com os seus malabaristas,
engolidores de fogo e equilibristas, a Miséria S/A faz a festa do
asfalto. Andando descalços, sobre o piche fumegante, vemos crianças e
adolescentes esmolando alguns trocados num show de melancolia. Basta que
a luz vermelha do semáforo acenda e eles surgem diante dos carros. E
nós ficamos ali, meio pasmos, meio constrangidos, meio anestesiados,
ansiando para que a luz verde nos liberte. Como num reflexo, nossos pés
bailam, um deles solta a embreagem enquanto o outro pisa no acelerador, o
automóvel cruza a faixa de pedestre e partimos sem olhar para trás.
- O sinal não abriu, está vermelho! – Alguém grita ao longe.
Ignoramos e seguimos em frente. Assim assinamos mais um atestado da nossa assumida sem-vergonhice.
Nenhum comentário:
Postar um comentário