sábado, 20 de abril de 2013

Cidade das trevas

 Rio de Janeiro - À noite, com um mínimo de criatividade, podemos passear pelos bairros do Rio nos imaginando numa excursão pela Transilvânia dos filmes de Drácula. Quando não estamos envolvidos pela penumbra que encobre muitas Ruas é porque já mergulhamos no breu total de alguma Avenida.


Não faz muito tempo que os cariocas passaram a ouvir dizer que habitavam uma cidade partida. Hoje, o Rio não é mais uma cidade partida, é uma cidade em estado de sítio. De um lado a miséria nos acua, do outro a violência faz tocaia, mais a frente nos espera a escuridão e por trás a paranóia nos persegue.



Qual seria a saída? Talvez, trancafiar-se em algum lugar isolado, onde pudéssemos tentar preservar a razão. Seria um hospício? Não sabemos... O que sabemos é que a maioria de nós já se trancafiou, nos entrincheiramos atrás de grades, porteiros eletrônicos, circuitos internos de TV e todos os acessórios que atuam como um Lexotan no nosso pânico.



O Rio é uma cidade rendida aos Bárbaros, não mais lutamos contra eles, apenas buscamos resistir o mais que pudermos, é o instinto de sobrevivência que tem a pretensão de evitar nossa extinção. Enquanto isso, vamos sendo soterrados pelo arsenal bélico das Favelas. Caso o nosso corpo sobreviva ao sorteio das balas sem rumo que navegam pelo céu, será preciso amarrar nossas mentes ao Porto da Razão, evitando que ela seja devorada pela esquizofrenia paranóide que nos rodeia.



Não pense que é estranho sentir que o melhor momento do seu dia foi aquele em que sonhou estar numa praia deserta ou num recanto bucólico, alienado de tudo e protegido por uma paz sedutora. A este fenômeno batizamos como Síndrome do Paraíso e é um surto inofensivo que acomete os moradores de metrópoles caóticas.



O que houve com as luzes? Por que a cidade se transformou num Vale de sombras que é lentamente assimilado pelas hordas marginais que se refugiam nos morros? Por que temos pavor dos bandidos e medo da polícia?



Sim! Fomos a cidade partida que evoluiu para uma cidade sitiada, mas a origem de tudo está naquela cidade que ficou abandonada por décadas, crescendo aleatoriamente, incendiada pela barbárie, sem que força alguma surgisse para frear a anarquia do caos.



Porém, acima de nós, do alto dos Palácios, nos observa a matilha atenta. Eles ignoram nossos temores, nossas expectativas, nem mesmo pelo sangue que jorra diariamente sobre o asfalto eles conseguem se interessar. Alimentam-se dos nossos ganhos, cobram para nos resguardar. Dizem que este exército de chacais são vampiros e, por isso, nos imergiram nas trevas. À noite vivem como lobos e durante o dia assumem formas assustadoras, transformam-se em Governador, Prefeito, Deputados e Vereadores. 

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