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Jornalista Alexandre Coslei na Câmara dos Vereadores RJ: Táxi X Uber

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VAN GOGH E RIMBAUD: OS OLHOS DO INFINITO

Arthur Rimbaud faz parte daquela galeria legendária de artistas que agregou ao brilho da sua obra o aspecto mítico do subversivo. De poeta marginal ao errante em terras africanas. O vate de inquietantes olhos azuis que arruinou a reputação de Verlaine ou que apenas serviu como detonador da autodestruição do mestre decadente. Talvez, para Rimbaud, a poesia tivesse tomado ares de um caminho bolorento e apático.  O enfant terrible convertido ao catolicismo no leito de morte. Van Gogh encontrou no suicídio o passaporte que rompeu com a servidão imposta pela arte para preservar sua saúde mental, Rimbaud renunciou ao poeta para mergulhar na aventura do desconhecido e nas empreitadas comerciais pelos desertos da Somália e Etiópia. Dois gumes da mesma faca, o talento se revelando como a vocação do trágico. O holandês Van Gogh e o francês Rimbaud, duas linhas soltas que atraem o nosso mórbido fascínio. Um abraçou a pintura com o extremo da paixão, erguendo uma ponte frágil entre a louc...

A FALÊNCIA DO ROMANCE BRASILEIRO

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A era digital inseminou uma crise na literatura brasileira: o colapso da criatividade. Observando o cenário nacional e focando nos jovens escritores, o que vemos é um painel que nos remete ao século 19, quando os importados da língua francesa e inglesa trouxeram as primeiras sementes de fertilidade para os autores brasileiros. O que testemunhamos hoje são aqueles mesmos romances adocicados, moralizantes (alguns, com viés evangélica), a exacerbação do sentimentalismo, o didatismo e a fantasia gótica. Os que fogem das velhas receitas enveredam por temas subversivos que flutuam no superficial, se limitando a meras apologias devido a uma abordagem precária, nessa categoria se encaixam os romances que versam sobre violência gratuita e decadência da sociedade. Há outros dois modelos em voga, um existencialismo maçante e um erotismo tacanho que tem muito a aprender com o Marquês de Sade.  O romance, como gênero literário, involuiu. Há uma tendência retrógrada que se enraizou, ape...

A BIBLIOTECA DE VAN GOGH

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Inúmeras vezes, nas cartas ao irmão Theo, Vincent Van Gogh discorre sobre literatura com a argúcia de um crítico e a paixão de um leitor voraz.   A literatura é um tema tão recorrente para Van Gogh que nem nos surpreendemos quando ele confessa que poderia tê-la escolhido como meio de expressão, caso a pintura não houvesse se afirmado em sua vida.    A bipolaridade emocional que o assolava afastou os amigos, incendiou o pavio das severas crises de depressão que sofreu, mas raramente o impediu que se dedicasse com afinco à criação dos seus quadros e à leitura intensa. Duas fortalezas resistiram até o fim na alma de Van Gogh, a pintura e os livros.   Quem não pensa em Van Gogh também como um escritor certamente não leu suas cartas, um valioso acervo literário e histórico. E Vincent não se restringia a escrever, ele pensava sobre literatura. A rica correspondência com Emile Bernard, um pintor que se arriscava como poeta, demonstra sua lúcida habilidade em a...

ESCREVER - A VOCAÇÃO PARA O AVESSO DAS COISAS

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    O escritor é o avesso - desde a adolescência foi como defini esse personagem mergulhado no vácuo, buscando na própria dissolução construir com as palavras um universo que sempre revela a alma daquele que escreve. Alguns escritores se apressam em dizer que não fazem da prosa ou da poesia um confessionário, quem diz isso é um mentiroso, porque todo escritor mente sobre suas reais intenções. Não há literatura sem algum tipo de confissão, que venha ela criptografada, envernizada ou camuflada. Talvez, escrever seja dizer a sua verdade fingindo que é a verdade do outro.      “ O poeta é um fingidor ” - sentenciava Fernando Pessoa .   E foi com Pessoa que eu vivi a primeira epifania literária. Adolescente, de férias num sítio em Petrópolis, puxo à revelia um livro da biblioteca e me deparo com quatro versos que agiram em mim como a Pedra Filosofal. Transformaram meu infantil pensamento de jovem burguês numa avassaladora consciência crítica. A ...

FASHION WEEK LITERÁRIA

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    Em 1873, Machado de Assis escreveu um dos seus melhores artigos: “ O instinto de nacionalidade ”. O texto, ainda hoje atualíssimo em seu corpo de ideias, mostra o amadurecimento e a formação da identidade literária brasileira a partir das bases construídas por autores do século 19. Machado indica que é na essência nacional e no domínio do idioma que reside a independência da literatura de qualquer país.   A visão de Machado sobre o papel do escritor é de tamanha e paradoxal contemporaneidade que nos permite estabelecer um diálogo atemporal através de comentários.   Machado de Assis - Quem examina a atual literatura brasileira reconhece-lhe logo, como primeiro traço, certo instinto de nacionalidade. Poesia, romance, todas as formas literárias do pensamento buscam vestir-se com as cores do país, e não há de negar que semelhante preocupação é sintoma de vitalidade e abono de futuro.            ...

A ARROGÂNCIA DO MERCADO EDITORIAL BRASILEIRO

Retratando-me como escritor iniciante, busquei aproximação mais apurada sobre as práticas do mercado editorial no Brasil. Os primeiros contatos com as maiores corporações me revelaram um executivo de perfil arrogante e pouco acessível, é o desenho predominante do personagem que compõe o editor nacional. Soa anacrônico imaginarmos um profissional, que deveria preservar a mente aberta para identificar e promover talentos promissores, aprisionado num casulo de pedantismo que incuba um vulgar caçador de níqueis. Travar um breve diálogo com alguns desses editores significa ser apresentado a uma ironia gástrica que corrói qualquer conexão que poderia ser criada. Editores são ilhas de desprezo. A produção de livros sofreu fortes acomodações tectônicas nos últimos dez anos, empresas como a Cia das Letras, Objetiva e Nova Fronteira ganharam sócios internacionais com forte participação acionária. Será que isso explicaria a atual supremacia dos títulos estrangeiros em nossas maiores livrarias? ...

A NOVA LITERATURA COMO FEUDO DE CELEBRIDADES

A NOVA LITERATURA COMO FEUDO DE CELEBRIDADES Por Alexandre Coslei A literatura, tal qual a lendária cidade de Troia , foi um dos últimos bastiães que cedeu ao avanço das barbáries da globalização. Resistiu com bravura à vilipendiação dos valores e à corrupção da alma. No entanto, resistir é inútil, já pressagiavam os Borgs de Star Trek . A arte literária também está sendo assimilada pelo consumismo hedonista para se enquadrar às normas da indústria cultural do século XXI, que é avessa a mergulhos profundos e impõe que as nossas preferências se limitem à epiderme das coisas. Livros com capas coloridas, chamativas; autor com pose de pop star , patinando deslumbrado sob holofotes e flashes de câmaras digitais. A palavra que renuncia ao conteúdo para se transformar em imagem plástica, mais palpável, palatável e lucrativa. A palavra realocada num mundo onde prevalece o objeto comercial. Book trailers , palcos, escritores-celebridade, feiras literárias como grandes anfiteatros para ...

A CRÍTICA PROSTITUÍDA

“O crítico literário é um homem que sabe ler e que ensina os outros a ler. ” -Charles Augustin Saint-Beuve-   Um crítico apurado, talvez, não considerasse de bom tom iniciar o artigo com uma citação que beira o clichê. No entanto, em nosso caos cultural, mergulhados na profusão de títulos que são lançados diariamente às livrarias, nem assustaria vermos alguns livros com o carimbo “ made in china ”.   Sim, a Internet e o Word produzem escritores em escala industrial e quase sempre sem controle de qualidade. Junto com o fenômeno da multiplicação dos livros, surgiram os messias e as oficinas literárias que prometem formar os novos best-sellers do século. A literatura se tornou um mercado pagão.   Ao olharmos para trás, lembrando de um período não tão remoto, encontramos nomes como Carpeaux, Augusto Meyer, Álvaro Lins, Antônio Cândido, Silviano Santiago. Personagens que atravessaram o século XX avaliando obras e proporcionando, através dos jornais, as crítica...

VERDADES DO COTIDIANO

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          DA SÉRIE: VERDADES DO COTIDIANO.  Juro, às vezes, tento fortalecer minha fé no atendimento do funcionário público, mas logo surge um desses verdugos de cartório, que somente com uma caneta consegue impingir as mais dolorosas torturas contra ... os desprotegidos contribuintes, e minha crença desaba em céticas ruínas. Quarta-feira. Compareço ao posto da Inspetoria da Receita Estadual para dar entrada num processo de reconhecimento de isenção de ICMS, o vigilante me aponta o guichê e vou de encontro ao meu destino. Não havia ninguém para me atender, mas uma senhora “quebra-galho” apareceu do nada e me perguntou o que eu desejava. Expliquei a minha demanda e ela me informou sobre a lista de documentos que eu deveria trazer. Ok, voltarei no dia seguinte. Quinta-feira. Retorno pela segunda vez ao posto da Receita Estadual na Tijuca, caminho até o guichê, encontro um funcionário com pastas abertas e digitando compenetrado. - É aqui que ...

BARBA ENSOPADA DE SANGUE - RESENHA DA SÉRIE: DESCONSTRUINDO A CRÍTICA DE ALUGUEL

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SÉRIE: DESCONSTRUINDO A CRÍTICA DE ALUGUEL LIVRO: BARBA ENSOPADA DE SANGUE AUROR: DANIEL GALERA EDITORA: CIA DAS LETRAS / 2012 Visitar a Livraria Saraiva, seja onde for, é como entrar numa Blockbuster literária. São livros de autores celebridades como Pedro Bial, Lobão, Fernanda Torres, etc. Além deles, encontramos uma fartura de biografias e edições sobre dragões, ficções com ares medievais, h ... istória de vampiros, narrativas de psicopatas caricatos, livros de amor e toda a quinquilharia produzida para um “novo público”. Os melhores livros da Saraiva não ficam nos balcões de destaque, mas empilhados no chão como indigentes das letras. Obrigo-me a superar qualquer preconceito intelectual que ainda habite o meu universo e compro o título de um desses decantados jovens autores, alardeados como finalistas e vencedores dos mais significativos prêmios literários (nem sempre um marketing sincero, é preciso filtrar). Saio da Saraiva carregando “Barba ensopada de Sangue”, o ro...

A POPULARIZAÇÃO DE MACHADO DE ASSIS E A VULGARIZAÇÃO DA LITERATURA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

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** A popularização de Machado de Assis e a vulgarização da literatura brasileira contemporânea ** Por esses dias discutiu-se tanto a popularização dos textos de Machado de Assis que quase alcançamos um tom clichê. A ideia de reimprimir a obra de Machado objetivando a imposição de um vocabulário simplório, que esteja ao alcance do público menos letrado, é somente um reflexo de uma literatura contemporânea açoitada pelas mãos de editoras que escolheram transformar a arte em cifras lucrativas. Recentemente, a escritora Nélida Piñon afirmou que hoje publicam o que vende, e não mais a literatura que fica. Está corretíssima. E qual a literatura que demonstra capacidade de mercadoria no Brasil? São os livros sobre vampiros brasileiros, ficções medievais encarnadas por anjos e demônios, violência sádica e caricata e romances sobre nada que correm centenas de páginas descrevendo litorais e personagens sem sal.   O que surpreende é a complacência cúmplice de muitos críticos com...

A zona boêmia carioca - Vila Mimosa

VILA MIMOSA Rua Sotero Reis – São Cristóvão - RJ Num dos versos da Divina Comédia, Dante leu a inscrição sobre a Porta do Inferno: “Vós que entrais, deixai toda a esperança”. Eu estava frustrado com o universo mundano do Rio, foi quando decidi redescobrir um território paralelo encravado entre São Cristóvão e a Praça da Bandeira. Vila Mimosa, o lugar onde a Mulher é real. Este bem que podia ser um mote de boas-vindas, colocado numa faixa na entrada da Rua Ceará, mas é apenas uma sensação que tenho quando penetro na Vila. Mais de oitenta anos de existência, dizem que recebe, em média, mil visitantes por dia. Já ocupou vários pontos da área do Centro. Contam que Clientes célebres estão na lista de freqüentadores: Manuel Bandeira, Cartola, Di Cavalcanti, Dicró, etc. Na Mimosa, debaixo daquelas lâmpadas de cem velas, a mulher não tem outra opção, ela é real em suas perfeições e imperfeições. Nuas ou seminuas, tudo é revelado pelo brilho florescente das galerias. L...

A política da miséria

Dizem que vivemos num país tropical, abençoado por Deus, mas esquecem de dizer que nossa bela nação, além de abençoada, também é sodomizada há séculos por uma política suja e retrógrada. Em Pindorama, enquanto ouvimos falar que tudo melhorou, que o Bolsa família é uma revolução social, que a aceitação do Governo Lula é estratosférica, também testemunhamos os nossos honoráveis congressistas cortando os céus, viajando com dinheiro público para os mais diversos e paradisíacos destinos. Quando não são eles a planarem sobre nossas cabeças, viajam as namoradas, namorados, esposas, maridos, filhos, filhas, mãe e quem mais puder usufruir dos maravilhosos benefícios oferecidos pelos nossos promissores cofres públicos. Viajam até mesmo os paladinos defensores da ética, os baluartes na luta contra a corrupção. Sem forçar a vista, somos capazes de observar cruzar a imensidão azul do nosso céu de brigadeiro alguns pequenos pontos verdes, são os Gabeiras, uma nova espécie de pássa...

A Lei x Zona Boêmia

Rio de Janeiro - "Dura Lex Sed Lex !"   Hoje, leio num dos jornais do Rio que foram presos na Quinta da Boa Vista um casal de rufiões (um policial e uma mulher) por agenciarem a prostituição de menores no local. Muito bem! Parabéns a nossa polícia! Cortando na própria carne! Opa! Mas acaba de me ocorrer algo!... A alguns metros do Parque que abriga o Palácio dos nossos antigos Imperadores existe a Zona de baixo meretrício mais famosa do Brasil, a Vila Mimosa. Será que nada de errado acontece por lá? Sempre ouvimos dizer que o tráfico de entorpecentes é rotina nos arredores da Rua Ceará; assassinatos também já ocorreram; voam boatos de que muitas casas têm como donos membros da nossa esmerada força policial. Será que na Vila Mimosa, um local quase vizinho à Quinta da Boa Vista, não ocorre prostituição de menores? Será que nada de errado habita a Zona? Tomara que não!.. Como vamos entender que tipo de força oculta conduz a ação da lei? Em São Cristóvão a prostitui...

Cidade das trevas

 Rio de Janeiro - À noite, com um mínimo de criatividade, podemos passear pelos bairros do Rio nos imaginando numa excursão pela Transilvânia dos filmes de Drácula. Quando não estamos envolvidos pela penumbra que encobre muitas Ruas é porque já mergulhamos no breu total de alguma Avenida. Não faz muito tempo que os cariocas passaram a ouvir dizer que habitavam uma cidade partida. Hoje, o Rio não é mais uma cidade partida, é uma cidade em estado de sítio. De um lado a miséria nos acua, do outro a violência faz tocaia, mais a frente nos espera a escuridão e por trás a paranóia nos persegue. Qual seria a saída? Talvez, trancafiar-se em algum lugar isolado, onde pudéssemos tentar preservar a razão. Seria um hospício? Não sabemos... O que sabemos é que a maioria de nós já se trancafiou, nos entrincheiramos atrás de grades, porteiros eletrônicos, circuitos internos de TV e todos os acessórios que atuam como um Lexotan no nosso pânico. O Rio ...